Pessoal!
Segue abaixo um tópico do blog O Clérigo falando sobre jogar RPG pela internet, mais precisamente por um programa chamado RRPG.
Apesar de jogarmos pelo fórum, acredito que talvez as experiências se equivalem.
Apesar de ser uma negação em termos matemáticos, acho que a expressão no título do post deixa claro do que vou tratar. Não? Então clique aí e fique sabendo!
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RPG e Teatro
Desde que comecei a jogar RPG, lá por volta de 1995 ou 1996, sempre associei a prática do hobbie à interpretação teatral. Quando alguns amigos me perguntavam o que era o tal de "arrêpêgê", eu prontamente respondia que era como fazer um teatro de improviso, sem script, usando a imaginação.
Essa pelo menos era a visão que meu grupo de jogo tinha. Para nós o RPG não se resumia só a combates e personagens combados. A interpretação teatral era o que nos movia. A oportunidade de dar vida a uma nova personalidade era fascinante, muito mais do que os números das fichas.
Só para se ter uma idéia, levei dois anos jogando AD&D com meu clérigo Slobodan para alcançar o 5º nível, e mais um ano jogando com um ladrão chamado Zorak para chegar ao 3º nível. Em Lobisomem jogamos por cerca de um ano e meio, e quando meu personagem finalmente ia ser avançado de posto, eu declarei que não estava preparado e a cerimônia foi cancelada. Perdi renome, honra e o escambal, mas fiz o que meu personagem teria feito. Mas isso não era problema: o importante é que os personagens tinham uma história, ou melhor estavam construindo uma história.
RPG numa mesa online... será que dá pra interpretar?
Antes da primeira sessão da mesa online aqui do blog, estávamos todos imaginando que perderíamos algo em termos de interpretação, que não seria possível passar aquela sensação de vida aos personagens, aquela veia teatral ao jogo.
O primeiro dia de jogo online foi o mais estranho. Logamos lá no RRPG e ficamos batendo um papo antes de começar a sessão. Eu particularmente estava imaginando como ia dar o pontapé inicial, se o pessoal ia entrar no clima, se a história ia render... Apesar dos temores, bastou começar a descrever e cena inicial para que a minha atenção não se desviasse mais da tela do computador, e pude sentir que o mesmo acontecia com os jogadores.
Admirei muito a proatividade do grupo, pois eles constantemente interagiram uns com os outros e com os pdms, descrevendo o que seus personagens realizavam e mantendo diálogos bem coerentes. Não estávamos interpretando de forma teatral, mas logo percebi que estávamos aproximando o nosso hobbie de uma outra modalidade de arte: a Literatura.
Interpretação falada... talvez não; mas escrita, sim
É óbvio que, ao digitarmos as ações e falas de nossos personagens, somos privados daquele toque teatral que teríamos na mesa de verdade. Mas na mesa online novas dimensões se abrem pois, assim como em um livro, as descrições e narrações acompanham e enriquecem os diálogos entre as personagens. Separei aqui algumas falas dos jogadores, para ilustrar como suas descrições ajudaram a criar uma cena. Sei que os exemplos estão fora de contexto, mas tudo bem. Só queria demonstrar como nos ajudam a criar imagens bem vívidas da situação.
[Cerdic Bradford] *Cerdic guarda sua palavra diante do assunto impróspero que surgia, e termina sua refeição com relativa rapidez*
Não sei, por exemplo, se o fato de Cerdic calar-se diante de uma discussão entre os companheiros teria sido tão marcante numa mesa de verdade. Talvez o jogador aproveitasse para se espreguiçar ou fazer aquelas montanhas com dados que todo mundo faz durante o jogo, o que não nos possibilitaria imaginá-lo "guardar sua palavra" e comer rapidamente.
[Leonam] (aguardo Cerdic passar pela porta dou uma ultima observada para ve se realmente não deixamos de notar nada e o sigo depois)
Essa cena talvez até seja comum em uma mesa normal. Sempre tem alguém que anuncia que vai dar uma última olhada em um local, antes de seguir adiante. Mas a palavra escrita tem um efeito muito mais visual do que a falada (pelo menos em minha opinião).
[Akkar] (Então repito o outro trecho e dou o diário a Leonam e rio sarcasticamente...)
Fico imaginando se o jogador que interpretava Akkar teria conseguido dar uma risada verdadeiramente sarcástica, ao interpretar seu hobbit, ainda mais representando a entrega do diário ao outro companheiro. Eu, pelo menos, consegui imaginar claramente o sarcasmo do pequenino através da descrição de sua ação.
Conclusão
O sentimento que tenho é de que o RPG de mesa é sim muito teatral, enquanto que o RPG virtual pende muito para o estilo literário. Eu diria que a grande diferença estaria no tempo de jogo, visto que o RPG de mesa teria um ritmo bem mais rápido (assim como o teatro, ou o cinema), enquanto que o RPG virtual seria um pouco mais lento e detalhado (como a literatura).
Haveria algum problema nisso? Acredito que não, visto que são duas modalidades diferentes de arte que podem ser incorporadas ao nosso hobbie com o mesmo grau de sucesso. E para finalizar, descobri com essa experiência que mestro muito melhor online do que ao vivo! Digo isso por que meu raciocínio não é tão rápido, e na mesa virtual tenho mais tempo para pensar e avaliar o próximo passo. Me senti como se estivesse lendo (ou melhor, escrevendo) um conto, uma história, com auxílio de bons jogadores.
Fonte: http://oclerigo.blogspot.com/2010/08/sermao-mesa-online-rpg-literatura.html