"Amargura, sensação muitas vezes tão boa quanto o doce, o amargor do café sem açúcar para acompanhar o bolo de aniversário no café da manhã pós-festa da infância, o amargor de uma cerveja gelada de alta fermentação no meio de um pub enfumaçado na juventude , o amargor de uma vida com arrependimento na maturidade...
Ricardo Von Strupp, 12 /08/2040."
Acorde Jean!
Ricardo Von Strupp era um bom homem, tinha sido um bom menino, um bom rapaz, um bom marido, um bom pai. TINHA sido. Ricardo era engenheiro mecatrônico em uma grande empresa de Joinville, tinha "a vida ganha" como diziam seus subordinados.
Menino precoce, Ricardo era daqueles que desmontavam carrinhos, radinhos e outros só para ver como funcionava. Teve uma carreira brilhante como acadêmico e depois como profissional. Casou-se com uma mulher que amava, a professora de Letras Rosana de Souza, com quem teve um filho apenas Jean Von Strupp, antes do grande cataclisma.
O que Rosana não sabia (e quase ninguém), é que Ricardo mantinha um projeto paralelo de transferência de inteligência, já que ele trabalhava em projetos de automatização para o exército. Ficou fácil para os generais da Coalisão saberem os pontos fracos dos sistemas de lançamentos de foguetes ou do tipo de ogiva utilizada.
Ricardo era um traidor, um X9, mas estava arrependido...
Desde aquele dia sempre fazia uma reverência interna, no horário em que a bomba foi lançada...
O açúcar da vida extrapolara, o amargor é o que sobressaia, quem fez o ditado que dizia "se o arrepndimento matasse..." não conhecia Ricardo, sua decadência era a prova pura da morte na face de um homem. O que se seguiu dali pouco importa em anos ou fatos, para ele os anos e os fatos eram detalhes que passavam despercebidos, o futuro pouco importa, foi no passado que sua vida ficou.
Sua esposa Rosana, não resistiu aos impactos iniciais e aos saques que se iniciaram com o início do caos.
Como trabalhava para o governo conseguiu abrigo em um dos Vault para ele e seu filho. Seu aspecto quando entrou era mais de morto do que vivo, mantinha um diário com seu sofrimento, era um homem extremamente amargurado.
Com o crescimento, seu filho Jean foi dando a ele alguns motivos de alegria, e com seu desenvolvimento rápido (parecia ser herança sua) a vida foi se mostrando de um outro jeito, foi ganhando uma motivação. Organizou junto com outros ex-colegas de trabalho uma pequena escola onde ensinaram para as crianças do Vault um pouco de ciência, matemática, física, química, biologia e eletrônica.
Dentre eles porém, era visível o destaque que Jean tinha, o menino era capaz de consertar qualquer coisa eletro-mecânica e mostrava ser um desperdício de talento trancado em uma lata de sardinha.
As emoções de Ricardo variavam muito, mas não era mais possível mudar o passado, pela primeira vez desde a bomba, estava disposto a contar a seu filho o que sabia, e o quanto tinha de responsabilidade pelo que aconteceu.
Dia planejado que não aconteceu, Ricardo desapareceu antes que pudesse dizer qualquer coisa ao filho. Jean porém conseguiu saber de parte da verdade lendo o diário de seu pai (de onde saiu a citação lá em cima), e atualmente perdeu seu referncial, não sabe ao certo o que é certo e o que é errado.
Mesmo sabendo que o que seu pai fez é errado, Jean está disposto a fazer qualquer coisa para ter uma pista do paradeiro de seu pai e quem sabe dar um futuro mais nobre a sua família. Desde então ele vem tendo sonhos e parece ter assumido os confrontos do pai, parece estar dando continuidade a seu legado amargo.